sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cultura da Infancia


Dar visibilidade às crianças: suas falas, expressões, sentimentos, gostos, gestos.
Esse é um grande desafio que se tem colocado a professores e pesquisadores da
educação, preocupados em entender a infância: o que pensam as crianças a respeito
da escola, do trabalho, das brincadeiras, dos seus colegas, dos seus professores e
dos adultos em geral? Enfim, o que e como a criança vê, sente, pensa a respeito
desse mundo que já estava pronto quando ela chegou? E como interage com ele?
São questões que, a partir do momento em que são feitas, apontam para uma
concepção de criança capaz, que faz, pensa, conhece, atua, explora e modifica o que
está à sua volta. E revelam a necessidade de se dar voz (não necessariamente a fala)
para que esses seres de pouca idade manifestem as suas teorias a respeito da vida.
Este livro reúne artigos que falam de trabalhos que procuraram fazer isto:
elaborar metodologias de pesquisas que permitam conhecer e entender algumas
das múltiplas facetas que configuram a cultura da infância. Sobretudo, pretende
colaborar para a formação de pesquisadores envolvidos com a produção de
conhecimentos a respeito da criança, no sentido de elaborar propostas educativas
para as crianças, que as considerem como seres portadores e construtores de cultura.
Assim, o primeiro artigo discute diversas pesquisas, na área da sociologia, que
se propuseram a analisar o tema infância a partir de relatos orais. Demartini nos
fala a respeito da diferença entre os relatossobreas criançase sobreas infâncias e os
relatosde crianças.Uma coisa é ouvir os adultos ou jovens que falam sobre a infância
e outra bem diferente é dar voz às próprias crianças. No entanto, as duas formas
de se pesquisar sobre a infância são importantes, pois permitem o conhecimento
sobre as diferentes maneiras de se sentir e pensar a infância, sejam as crianças que
ainda estão vivendo a infância, seja a partir visão dos adultos, mediada pelas lem-branças epela memória. Assim, Demartini ressalata a importância dos relatos
orais para se conhecer e aprofundar conhecimentos a respeito das crianças e das
infâncias, de forma plural, de épocas, lugares, e realidades distintas.
O segundo estudo apresentado no livro é parte do trabalho de doutorado de
]ucirema Quinteiro, que discute as relações entre infância e educação, buscando
apontar para um campo de estudos em construção. A autora, ao fazer um
levantamento das pesquisas que, na área da sociologia estudam a criança e a infância,
nos fala da emergência de uma sociologia da infância na Europa, das contribuições
teóricas acerca da infância no Brasil, numa perspectiva sociológica, e as implicações
metodológicas sobre a infância na escola.O artigo de Quinteiro é uma contribuição
fundamental, pois aponta para a elaboração de uma concepção de criança e de
infância diferente da perspectiva psicológica tão predominante nos estudos da
pedagogia, atualmente bastante criticada.
Galzerani, no trabalho seguinte, nos convida para uma viagem pelas produções
textuais do pensador Walter Benjamin. O texto escolhido é Infância em Berlim,
no qual Benjamin escreve sobre passagens de sua infância, por volta de 1900,
tentando apresentar as impressões que tinha do mundo adulto e como apreendia
essa realidade. A partir dessesescritos de Benjamim, a autora reflete sobre o conceito
benjaminiano de modernidade capitalista, sobre as imagens benjaminianas de
infância e ainda apresenta as contribuições de Benjamim sobre o conceito de sujeito.
E, bem ao estilo benjaminiano, a autora termina o texto, mas não o conclui, ela
apenas
(.,,) puxa alguns fios simbólicos relativos às imagens de infância; fios esses que não
pretendem ser a palavra final, a palavra verdadeira sobre essa questão; fios ou teias
que pretendam deixar a problemática, ora focalizada, ora em aberto. Como narrativa
capaz de ser continuada por outros sujeitos (p.64).
O quarto artigo apresenta uma discussão a respeito do desenho infantil e da
oralidade como instrumentos de pesquisa com crianças pequenas. A autora afirma
que os desenhos podem e devem ser vistos
(".) como documentos que permitem aos pesquisadores saber mais acerca desses
sujeitos e não somente isso, possibilitam-nos conhecer mais suas percepções da
realidade por eles vivida, não sendo percebidos como textos escritos, mas sim como
textos visuais que podem ser olhados, sentidos, lidos (p.76).
Gobbi nos fala de três experiências em que as crianças foram chamadas a
expressar suas idéias através do desenho, quais sejam: nos anos 30, na gestão de
Mário de Andrade no Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São
Paulo; nos anos 80, durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria Municipal de
São Paulo; e durante a pesquisa de mestrado da própria autora.

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